A maioria de meus textos inicio a partir de um pensamento,
um sopro, reflexão sorrateira e contundente. Na verdade 100% de meus últimos
textos foram lampejos de pensamento, normalmente começo justificando minha
ausência desse exercício de traduzir em palavras o que sinto.
Dessa vez será um pouco diferente, a vida tem me feito
reinventar tanta coisa, a motivação de escrever talvez seja uma delas. Sempre
me cobro de escrever, de mim pra mim. Depois que aprendi a me revisitar anos
depois, começou essa cobrança. Totalmente egoísta. Não quero me perpetuar nem
nada. Quero me revisitar, simples assim.
Então, em meio a toda inspiração que a vida me propõe, fica
sempre uma vontade de registrar em palavras o momento. Mas por que? Sim, pra eu
me revisitar daqui há 10 anos por exemplo, e me reconhecer amanhã. Minhas
impressões do mundo são sempre um convite ao reconhecimento de mim.
Parece uma jornada sem fim, tenho substituído a cobrança de
me registrar pela plenitude de viver. Acredito que nessa jornada mudamos muito,
não é ‘muito’, aliás não necessariamente, a palavra certa é ‘sempre’. Mudamos
sempre! Constante movimento.
Alguns invertebrados como a lagosta mudam sua carapaça,
imagine só... o crescimento dela fica limitado a seu exoesqueleto ao ponto que
ela precisa trocar para renovar a chama de mudança, de crescimento. Ela fica um
tempo vulnerável enquanto o cálcio trabalha em seu organismo na construção de
nova carapaça, maior, que permitirá seu novo ciclo de crescimento.
Pois a minha ausência daqui talvez seja uma mudança para
novas perspectivas. Acho que elas podem coexistir, mas é preciso um tempo. Me
dou esse tempo. Tô aprendendo.
Mas enquanto precisar dividir espaço entre viver e escrever,
viverei.
A melhor ferramenta que encontrei para crescer foi sentir,
perceber, olhar em volta. Como falou a Maria Bethania em uma música: “...Eu
ando de cara pro vento, na chuva, e quero me molhar”.
O exercício recorrente de refletir sobre meus sentimentos,
não me leva a lugar nenhum, mas é o vento que sopra minha vela em direção à minha
alma. E desenvolver esse aprendizado de rumar em direção a mim me leva a
lugares belos.
Tenho observado que a reflexão posterior sobre belezas que
apetecem meu olhar tem mudado, precisam cada vez menos do pensar, tem se
tornado mais orgânicas.
Vivo ao vivo.
Viver é correr muitos riscos, mas um dos mais avassaladores
dos riscos é viver na superfície. Tento mitigá-lo, nem sempre é lúdico e belo a
profundidade, muitas vezes é inquietante, outras é confuso. Como diz o
Belchior, muitas vezes me sinto cansado do peso de minha cabeça. Mas essa é
minha verdade, o que me resta e o que me sobra.
O melhor lugar para depositar minha intensidade com certeza
é em um sorriso. Ao vivo!
Onde essa jornada me levará?